Foi há relativamente pouco tempo que comecei a pensar no ato de cozinhar como algo empoderador e libertador, e isso me vem à mente quando penso em algumas passagens de minha infância.
No período entre a morte de minha mãe e meu pai casar novamente minha avó paterna morou conosco e fazia toda a comida em casa. Ela era uma cozinheira fantástica – ainda é aos 88 anos de idade – mas raramente fazia os pratos dos quais eu gostava – sei que isso vai soar amargo e “oh, minha avó gostava mais do meu irmão do que de mim” mas é verdade: ela preparava qualquer coisa que meu irmão pedisse sem hesitar, entretanto nunca prestou muita atenção ao que eu gostava de comer – as “vantagens” de ser a irmã mais velha, creio eu.
Um dos pratos que ela fazia com frequência eram panquecas de carne com molho de tomate. Sabem, eu não gostava de carne bovina quando era pequena e ainda assim tinha que comer as benditas panquecas. Meu irmão, porém, não gostava de molho de tomate, mas ele não precisava comer as tais panquecas – em vez disso, ele pedia que as suas panquecas fossem recheadas com batata frita (!) e minha avó não dizia uma palavra. E isso é apenas uma das situações daquela época.
Agora, adulta, cozinho o que quero, quando quero. Minhas panquecas são recheadas de ricota e espinafre e não preciso implorar a ninguém por isso.
Manicotti de ricota e espinafre
um tiquinho adaptados do lindo e delicioso Homemade with Love: Simple Scratch Cooking from In Jennie's Kitchen
- xícara medidora de 240ml
Crepes:
1 ½ xícaras (360ml) de leite integral
1 ovo grande
½ colher (chá) de sal
1 xícara (140g) de farinha de trigo
óleo de canola, o necessário para pincelar a frigideira na hora de preparar os crepes
Recheio:
2 colheres (chá) de azeite extra virgem
1 dente de alho gorducho, picadinho
200g de espinafre, talinhos removidos
sal e pimenta do reino moída na hora
1 pitada de noz-moscada moída na hora
450g de ricota – usei caseira (receita aqui), usando 5 xícaras de leite
1 punhado de salsinha picada
¼ xícara de parmesão ralado fininho
Montagem:
1 ½ xícaras de molho de tomate, receita aqui
¼ xícara de parmesão ralado fininho
Prepare os crepes: coloque o leite, o ovo, o sal e a farinha no liquidificador e bata até homogeneizar. Deixe em temperatura ambiente por 1 hora (ou por pelo menos 30 minutos).
Aqueça uma frigideira antiaderente de 20cm de diâmetro em fogo médio-baixo. Pincele-a com o óleo de canola (se necessário). Despeje uma porção de massa no centro da frigideira (o bastante para cobrir todo o fundo dela) e vá girando até cobrir todo o fundo. Cozinhe por 30-45 segundos, vire e cozinhe por mais 15 segundos, ou até dourar. Transfira para um prato raso e repita o procedimento com a massa restante.
Recheio: em uma frigideira grande, aqueça o azeite em fogo médio-alto. Junte o alho, seguido do espinafre e refogue até murchar. Tempere com sal, pimenta e noz-moscada. Deixe esfriar um pouquinho, pique, e então transfira para uma peneira e aperte para retirar o excesso de líquido. Transfira para uma tigela média, junte os outros ingredientes do recheio e misture para incorporar. Cheque os temperos e ajuste se necessário.
Pré-aqueça o forno a 200°C. Espalhe cerca de ½ xícara do molho de tomate em um refratário de 22x32cm.
Coloque cada crepe sobre uma superfície lisa e espalhe parte do recheio na extremidade inferior do crepe, formando um cilindro. Enrole o crepe e coloque-o no refratário com a emenda virada para baixo. Repira o procedimento com os crepes restantes. Cubra com o molho de tomate restante, salpique com o queijo e asse por 20 minutos ou até que doure e o molho esteja borbulhando. Sirva imediatamente.
Rend.: cerca de 10 crepes – consegui 9; os dois primeiros rasgaram no centro, então servi 7 no total
11 comentários:
Manicotti é diferente de panqueca ou é só o nome em italiano?
=) Eu estava falando sobre isso com meu marido outro dia. Como é bom poder cozinhar! Não preciso pegar carro, fila e pagar uma fortuna por qualquer prato que tenho vontade de comer. Basta ir ao supermercado e abraçar minha pequena e deliciosa cozinha!
E é chato ser a mais velha em diversas situações! =) Sei bem...
Mas, quando temos irmãos caçulas fofos para mimar com nossos dotes culinários, a vida brilha!!!
Oi Patrícia,
Mais uma das suas delícias para os olhos e para a alma! Para mim, cozinhar sempre foi como fazer regime, ambos são parte da minha vida. Querendo ou "des-querendo", cozinho (e, claro, faço regime:). As panelas me acompanham desde menina fazendo comidinha na casa da avó materna e instruída pelas agregadas, minhas primeiras mestras. Já senti e pensei de tudo ou quase tudo sobre elas, as panelas. Visitamos juntas vários reinos, dos deuses aos espíritos famintos,do sublime ao impublicável. Mas nunca à luz dessa novidade que você trouxe, o ato de cozinhar como algo empoderador e libertador.
Muito obrigada, Patrícia, por compartilhar e pela sua cozinha cheia de delícias e graça.
Abraços.
Sara
Oi, Pati. Algumas avós são assim, mesmo! Mas umdia até que as entendemos! :-) O importante é que hj vc é quem manda na tua cozinha e a receita ficou deliciosa! Tb tive uma avó que deixou muito a desejar, mas entendi... Aqui conto minha versão: http://memoriasgastronomicas.com.br/2011/09/receita-centenaria-puchero-da-bisa-candu/
Beijos
Esta receita é deliciosa! Adorei!
Que aspecto mais suculento!
Me deu uma fome aqui!!!
Beijinhos, Pri
http://receitaesperta.blogspot.com.br/
Concordo que cozinhar é poder. E também independência, sempre digo as minhas sobrinhas que para ser verdadeiramente independente o ser humano tem que se manter, e se manter alimentado é essencial, se não souber cozinhar pelo menos o básico, não é verdadeiramente independente.
Bjs
Meninas, obrigada pelos comentários!
Sarah, vc tem razão - ter minha Pichu é das melhores coisas da vida. :D
Beijo, querida!
Sara, que poema esse seu comentário, fiquei emocionada! Obrigada pelo carinho!
Eu também vivo querendo emagrecer, há épocas que consigo e depois volto ao peso anterior... É mesmo ruim, mas acho que é parte da vida, não?
Um beijo!
Xará, vou lá ler o teu post.
Bj!
Dricka, é isso mesmo, concordo contigo.
Bj!
Confesso achar estranho quando alguém diz "não sei cozinhar um ovo".como aprendi -aluás, continuo aprendendo - a cozinhar desde os 11 anos de idade, por questões diversas, não entendo quando uma pessoa não enxerga o sentido de independência - e consequentemente, poder - que cozinhar proporciona.
Abraços,
W
Pati, acabei de repetir pela 918918 vez essa receita.
Essa receita me fez gostar tanto de espinafre (não que não gostasse, mas nunca dava muita chance).
Aqui em casa tenho feito esse recheio pra rondelli. Compro a massa fresca na feira e recheio.
Mas confesso, acrescento cubos torradinhos de bacon, e olha, fica maravilhoso :)
Amanhã vou receber minha mãe com uma travessa de rondelli com molho de tomates caseiro :)
beijos.
Silvia, amei saber que vc gostou tanto da receita! Que coisa boa! <3
Essa ideia dos cubinhos de bacon é genial, vou experimentar!
Beijo e obrigada pelo comentário!
Postar um comentário