Eu poderia dizer que o post de hoje é um desabafo, mas seria dramático demais - enquanto escrevo isso, lembro da minha chefe suíça Raffaella, tão querida, que voltou para Zurique e que brincava me chamando de "drama queen". :)
Havia muito tempo que não fazia receitas novas - andava mesmo só cozinhando o basicão, por necessidade, sem sentir prazer nenhum. Cozinhava porque precisava comer, pronto - assim mesmo, bem sem graça. Não me lembrava de quando me sentira assim da última vez, talvez nunca? Desde a adolescência eu sempre me sentia feliz na cozinha e fazia bem mais de um ano que isso não acontecia. Todas as receitas que vocês tem visto aqui são as que desenvolvi para o livro, coisa antiga que eu não queria deixar guardada, receitas tão boas que precisavam ser compartilhadas com quem ainda sente alegria ao cozinhar, mas coisa nova mesmo, não havia. Eu pensava no que seria do blog quando o estoque de receitas do livro acabasse...
Mas o Universo tem jeitos muito particulares de agir e o meu pequenino, que não é mais tão pequenino assim - fez 4 anos mês passado - estava aqui em casa outro dia e como já tínhamos brincado de tudo o que vocês puderem imaginar eu não sabia mais como distrair a criança que não para um minuto sequer. Com o horário do jantar chegando, me deu uma luz de repente e perguntei se ele queria fazer pizza comigo - a ideia foi rapidamente aceita e para a cozinha nós fomos. Fizemos a massa juntos, para depois deixar a batedeira sovar, e algumas colheres-medida e punhados de farinha espalhados depois nossa massinha estava na tigela, coberta com plástico e crescendo. A alegria do Pingo ao saber que estava fazendo algo que comeria mais tarde me deu uma energia completamente nova. Depois do tempo de descanso, abrimos a massa juntos, ele apertando o rolo com suas mãos fofinhas, espalhando molho com as costas da colher (e furando a massa, mas tudo bem, fui grudando tudo de novo, beliscando a massa), jogando queijo por cima... Senti uma felicidade como havia muito não sentia. Ele me ajudou a tirar as folhas de manjericão dos galhinhos, feliz da vida, para que eu as espalhasse sobre a pizza ao tirá-la do forno. E depois comemos o resultado do nosso trabalho e ele disse que a pizza da Dedé era mais gostosa do que a pizza da pizzaria.
Ele voltou outro dia, fizemos pizza novamente, e também picolé e bolo. Ele amou fazer bolo e me dizia que o cheirinho vindo da cozinha era muito gostoso. Fizemos juntos o bolo que lhes trago hoje e só agora, escrevendo o post, é que me dou conta de que é um bolo com fubá, por uma coincidência. O meu primeiro bolo da vida foi de fubá e quem é leitor veterano do blog sabe disso.
Para vocês terem uma ideia de quanto tempo fazia desde a minha última foto de comida, a bateria da câmera estava completamente descarregada quando a peguei para fotografar o bolo. Fiquei um tempão tentando encontrar um jeito de fazer uma foto bonita: bolo inteiro, bolo cortado, paninho de uma cor, paninho de outra, prato este, prato aquele. Não sei bem se as fotos me agradaram - vai ver, perdi o meu mojo -, mas para sempre vou me lembrar deste bolo como o primeiro bolo que fiz com o Pingo. O bolo que me tirou do estupor de mais de um ano sem querer sequer ligar o forno.
Bolo de fubá, laranja e coco
receita minha
Bolo:
1 xícara (140g) de farinha de trigo
3/4 xícara (105g) de fubá
1 1/2 colheres (chá) de fermento em pó
1 pitada de sal
1/2 xícara (50g) de coco ralado sem adição de açúcar
raspas da casca de 1 laranja grande
1 xícara + 1 colher (sopa) - 212g - de açúcar cristal ou refinado
1/2 xícara + 2 colheres (sopa) - 140g - de manteiga sem sal, temperatura ambiente
1 colher (sopa) de óleo de canola
3 ovos grandes, temperatura ambiente
1 colher (chá) de extrato de baunilha
3/4 xícara (180ml) de leite, temperatura ambiente
Glacê:
1/2 xícara (70g) de açúcar de confeiteiro, peneirado - meça, depois peneire
2-3 colheres (chá) de suco de laranja
Preaqueça o forno a 180°C. Unte com manteiga e enfarinhe uma forma de furo central com capacidade para 8 xícaras de massa.
Em uma tigela média, misture bem com um batedor de arame a farinha, o fubá, o fermento, o sal e o coco. Reserve.
Na tigela da batedeira, junte o açúcar e as raspas de laranja e esfregue-os juntos com as pontas dos dedos até perfumar o açúcar. Junte a manteiga e o óleo e bata em velocidade média até obter um creme claro e fofo - raspe as laterais da tigela ocasionalmente durante todo o preparo da receita. Junte os ovos, um a um, batendo bem a cada adição. Junte a baunilha e bata bem. Com a batedeira em velocidade baixa, junte os ingredientes secos reservados em três adições, alternando com o leite em duas adições, começando e terminando com os ingredientes secos. Misture bem, mas não bata em excesso para não desenvolver demais o glúten da farinha de trigo.
Transfira a massa para a forma preparada e alise a superfície. Asse por 40-45 minutos ou até que o bolo cresça e doure (faça o teste do palito). Deixe esfriar na forma sobre uma gradinha por 20 minutos e então desenforme com cuidado. Esfrie completamente.
Glacê: misture os ingredientes em uma tigelinha até obter a consistência desejada. Despeje sobre o bolo.
Rend.: 8-10 fatias
14 comentários:
Você nunca vai perder seu mojo, querida!!! Saudades demais, mesmo. Te admiro muito, e há séculos, hein?
Beijo grande.
Que delícia de história! Deu para sentir o cheirinho do bolo daqui.
Jana
É isso Patrícia, não desanima, não. A vida acontece ao nosso redor, é só olhar para procurar novos significados e novos momentos de alegria. E cozinha é vida, uma coisa está muito ligada à outra.
Fico feliz que você tenha o Pingo ao seu lado, deve ser uma graça de menino!
Um abraço!
Fiquei imaginando o cheirinho desse bolo!!!
Que bom que o Pingo te contagiou. :)
linda! e lindo Pingo! 4 anos o rapaz. <3
Ah, minha linda. Que post. Que alegria. Parabéns. <3
As fotos ficaram ótimas e fico feliz que a alegria de seu sobrinho transbordou para você em forma de comida! <3
Dá pra sentir sua alegria nas palavras ❤️ Com um bolo bonito assim, ganhamos todos!
O universo sempre a nos surpreender, ás vezes em forma de um "pingo".
Oi, Patricia!! Fiquei emocionada ao ler seu post!!
Fiquei emocionada também porque Pingo era como o meu pai (que já não está entre nós) chamava minha mãe, e minha mãe adora bolo de fubá.
O bolo parece mesmo uma delícia, mas bonita mesmo é a história por trás dele! Tenho certeza que você está criando lindas memórias com esse menininho tão especial! Espero que assim como a vida de maneira geral, essa sua fase esteja passando!! Adoro o seu blog e tenho um carinho muito especial por esse cantinho aqui, e por você, que já me salvou diversas vezes, seja com ótimas receitas, dicas de filmes ou só mesmo um texto legal seu!
Um grande abraço!
Maia
A história deu ainda mais sabor ao bolo que parece muito delicioso. Certamente entrará na minha lista de receitas a fazer. Obrigado por compartilhar e não pare nunca!!
Fiquei super emocionada com o post! <3
Patricia,
Te entendo tanto...a vida é mesmo essa montanha russa,
mas não devemos temer, muito pelo contrário, devemos sim continuar a fazer o que nos dá prazer e eu creio que cozinhar é uma das formas de passar adiante o nosso carinho.
Sempre amei este seu espaço, e já perdi a conta de quantas receitas suas já reproduzi,
Neste momento estou tendo um momento de puro deleite tomando minha habitual caneca de café no escritório, acompanhada de uma fatia generosa dessa delícia de bolo!
Te desejo muita paz, não deixe de ser feliz junto aqueles que você ama!
Obrigada por ter me permitido, durante todos esses anos poder experimentar sabores tão divinos,
Abraço pra você
Renata Boechat
Adoro seus comentários de vida
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