Dias atrás travei as costas e o pescoço do lado esquerdo e mal conseguia me mexer: era tanta dor que as lágrimas escorriam, mesmo eu não querendo chorar. Não conseguia ficar sentada de jeito nenhum, quando deitava e encontrava uma posição mais agradável virava uma estátua – a estátua do Quasímodo.
Por isso, fiquei off das redes sociais por uns 4 dias, mais ou menos, e confesso que não senti falta – achei que sentiria, mas não. Engraçado, né? O Instagram e o Twitter foram companheiros muito próximos durante toda a pandemia e o período de isolamento, e cheguei até mesmo a fazer algumas lives, mas hoje não me vejo assim tão dependente das redes sociais, sabe-se lá até quando.
Tem hora que o Instagram enche o saco, mas também tem hora que aparece um post que chama a atenção, faz a gente pensar. Sigo uma mulher maravilhosa chamada Larissa Guerra e ela escreveu tempos atrás sobre uma viagem à praia e sobre a aceitação do seu próprio corpo, contando que por muito tempo se privou de fazer coisas prazerosas por causa de neuras sobre sua aparência. Ao ler as palavras da Lari, mil sinos começaram a tocar na minha cabeça, e se você é mulher certamente na sua também. Quantas vezes deixamos de fazer o que gostamos por conta de cobranças com nosso corpo, com o peso? Quantas vezes deixamos de usar biquini por causa da barriga, ou shorts por causa das celulites nas pernas? Desde muito jovens somos expostas a esse tipo de cobrança, essa exigência de ter um corpo “perfeito” de acordo com o padrão estabelecido. Nossos corpos são inadequados, logo a gente tenta se enfiar dentro do quadradinho para sermos aceitas, para sermos amadas. E isso tudo eu digo sendo mulher cis e branca, porque para outras minorias a situação é muito pior: mulheres negras, mulheres trans... Nem posso imaginar pelo que elas passam.
Fiquei pensando nisso outro dia, quando comentei com uma colega que não fazia mais receitas doces, pois somos só dois e o João não é muito de doces – assim que terminei a frase, pensei em como eu estava reproduzindo o discurso que quero tanto destruir. É claro que eu não vou viver à base de sobremesas, porque não é essa a ideia: quero sim, comer meus vegetais, legumes e frutas, meu feijão com arroz. Mas também quero comer minha pizza com uma taça de vinho sem ficar pensando “ai meu deos, a calça jeans vai ficar apertada”. Quero sim, fazer um docinho quando der vontade, sem ficar calculando milimetricamente quantos pedaços o João vai comer e quantos eu vou comer. Quero fazer um brownie, e se não puder dividir com o pessoal do escritório, como fazia antigamente, não tem problema.
A receita que trago hoje é bem antiga, foram brownies que fiz e levei para o escritório uma semana antes do lockdown no ano passado: é uma variação desta receita aqui, que é ótima e rende super bem: eu não tinha gostado muito da foto e acabei não publicando à época. Este brownie foi preparado com o pessoal do trabalho em mente, todos eles adoraram e fiquei bem feliz com isso. Entretanto, da próxima vez que der vontade de comer uma sobremesa gostosa, um brownie ou uns cookies, não vou espera voltar ao escritório: faço meia receita, ¼ de receita, mas faço – sem achar que o meu valor está na minha aparência ou no tamanho do meu jeans.
Ah, aproveitando: a Larissa também tem um podcast excelente
chamado “Donas da P* Toda” – vale muito a pena ouvir.
Brownies com chocolates amargo e branco e cranberries
adaptados destes brownies
- xícara medidora de 240ml
150g de chocolate meio amargo, picadinho ou em gotas – usei
um com 53% de cacau
¾ xícara (170g) de manteiga sem sal, temperatura ambiente e
picada
1 ½ xícaras (300g) de açúcar cristal ou refinado
3 ovos grandes, temperatura ambiente
2 colheres (chá) de extrato de baunilha
½ xícara (70g) de farinha de trigo
¾ xícara (75g) de farinha de castanha de caju – pode ser
trocada por farinha de outras oleaginosas; o sabor não influencia muito, a
farinha de oleaginosas serve para deixar os brownies bem úmidos
1 colher (sopa) de cacau em pó, sem adição de açúcar,
peneirado – meça, depois peneire
¼ colher (chá) de canela em pó
½ colher (chá) de sal
100g de chocolate amargo (70% de cacau) picado ou em gotas
70g de chocolate branco, picado ou em gotas
½ xícara (70g) de cranberries secas, picadas se forem
graúdas
Preaqueça o forno a 180°C. Unte levemente com manteiga uma forma de metal retangular de 20x30cm, forre-a com papel alumínio deixando sobras em dois lados opostos e unte o papel também.
Em uma tigela refratária grande, junte o chocolate meio amargo (150g) e a manteiga e leve ao banho-maria (em fogo baixo, sem deixar o fundo da tigela tocar a água) até que os ingredientes derretam. Retire do fogo e deixe esfriar. Acrescente o açúcar e misture com um batedor de arame. Junte os ovos, um a um, e misture bem com o batedor. Junte a baunilha.
Adicione a farinha de trigo, a farinha de castanha de caju,
o cacau, a canela e o sal e incorpore-os usando uma espátula de silicone,
misturando até obter uma massa homogênea. Incorpore o chocolate amargo, o
chocolate branco e as cranberries. Espalhe na forma preparada e alise a
superfície. Asse por 25-30 minutos ou até que um palito inserido no centro do
brownie saia com migalhas úmidas. Deixe esfriar completamente na forma sobre
uma gradinha.
Corte em quadradinhos para servir.
Rend.: 24 unidades
2 comentários:
Ótimo post. E olha nossos padrões impossíveis em toda parte... Essa foto tá linda, viu? Me deu muita vontade de experimentar esses brownies. O que eu faço aqui em casa é preparar doces que posso congelar parte e comer depois. Mas na maioria das vezes, eu faço bolo e como todo dia no café da manhã mesmo, até acabar. hahaha
Mari, querida, obrigada por comentar. Bolo no café da manhã é tão bom, né? Um bj!
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