sexta-feira, junho 13, 2008

Zuger Kirschtorte

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Zuger Kirschtorte

Geralmente escrevo sobre mim, minha família e amigos aqui. Compartilho com meus leitores a comida, a música e os filmes que adoro. Mas hoje vou lhes contar uma história de alguém que trabalha na mesma empresa que eu; a Neusa será a personagem deste post.

Em uma das visitas à sua sogra, foi-lhe servido um lindo e delicioso bolo para o chá. O bolo povoou os pensamentos de Neusa por um bom tempo – era, realmente, uma sobremesa fantástica. Ela finalmente pediu a receita à sogra, e a resposta foi uma surpresa: “Você deve estar enganada; nunca lhe servi isso. Desculpe-me, mas não sei do que está falando”.

Neusa não estava enganada nem havia sonhado com o bolo. Algumas sogras não são boas no quesito diálogo, e ela logo aprendeu que a dela, apesar de ser uma verdadeira lady, encaixava-se no perfil.

Sabemos que quem espera sempre alcança e, um belo dia, Neusa mal podia acreditar no que havia em suas mãos – enquanto folheava um dos livros de sua prima, deu de cara com uma foto do bolo. AQUELE bolo. O bolo “nunca-lhe-servi-isso-você-deve-estar-enganada”. Nem preciso dizer que ela fez uma cópia da receita e preparou o bolo, né?

Sim, ela o preparou, e o bolo ficou maravilhoso. Adivinhem o que Neusa serviu à sogra quando a recebeu em casa? Ah, a vingança pode ser algo tão doce... :)

Neusa me deu a missão de fazer o bolo, também – um Zuger Kirschtorte. Ela quer que por meio do blog outros tenham acesso à receita, algo que a sogra dela jamais aprovaria. Neusa me contou que a sogra dela nasceu em 1914 e que, para algumas pessoas daquela geração, receitas de família não deveriam ser compartilhadas; a idéia era que fossem preparadas e servidas aos convidados que, impressionados com a comida, nunca saberiam como prepará-la.

A receita do livro que a Neusa trouxe não era tão precisa e levei umas rasteiras da danada. Mas finalmente consegui finalizá-la e a posto com todos os detalhes possíveis.

Zuger Kirschtorte

Ela ainda fez a gentileza de me emprestar este prato lindíssimo – uma peça alemã – para que eu fotografasse o bolo numa relíquia de família. Vejam só como ela é elegante – uma verdadeira lady, também. ;)

Zuger Kirschtorte

Zuger Kirschtorte

Suspiro de amêndoas:
4 claras
120g de açúcar de confeiteiro
20g de maisena
100g de amêndoas moídas

Genoise:
3 ovos, claras e gemas separadas
3 colheres (sopa) de água quente
80g de açúcar de confeiteiro, peneirado
10g de açúcar refinado
50g de farinha de trigo
50g de maisena
1 pitada de fermento em pó

Creme de manteiga (buttercream):
150g de manteiga sem sal, em temperatura ambiente
150g de açúcar de confeiteiro, peneirado
1 gema
50g de geléia de groselha – usei de amora

Xarope:
4 colheres (sopa) de água
20g de açúcar refinado
120ml de kirsch

Para polvilhar:
100g de amêndoas torradas e picadas – deixei-as com casca para dar um colorido ao bolo
70g de açúcar de confeiteiro

Comece pelo suspiro: pré-aqueça o forno a 160ºC. Desenhe dois círculos de 25cm de diâmetro em um pedaço grande de papel manteiga. Coloque-o numa forma retangular grande, de beiradas baixas, e unte bem o interior de cada círculo com manteiga. Peneire o açúcar de confeiteiro, junte a maisena e as amêndoas moídas e reserve. Bata as claras em ponto de neve firme; desligue a batedeira e junte os ingredientes reservados com uma espátula de silicone/borracha, misturando delicadamente. Espalhe o merengue dentro dos círculos no papel manteiga, deixando 0,5cm de bordas livres (o merengue se espalhará). Leve ao forno por 40-50 minutos, até que os discos de merengue dourem. Desligue o forno e deixe o merengue esfriar lá dentro por pelo menos 4 horas (pode ser feito de véspera).

Genoise: Pré-aqueça o forno a 175ºC; unte uma forma redonda de 25cm de diâmetro, de fundo removível, forre o fundo com papel manteiga e unte o papel.
Na batedeira, bata as gemas com a água quente, até se tornaram uma espuma espessa; junte aos poucos o açúcar de confeiteiro. Reserve.
Bata as claras em ponto de neve firme; acrescente o açúcar refinado e bata. Junte a mistura de claras ao creme de gemas e peneire sobre eles a farinha, a maisena e o fermento. Misture tudo delicadamente com uma espátula de borracha/silicone. Despeje a massa na forma preparada e leve ao forno por 25-30 minutos, ou até que esteja assada – o bolo se descolará das laterais da assadeira.
Deixe esfriar completamente sobre uma grade.

Creme de manteiga: bata a manteiga até obter um creme. Vá juntando o açúcar aos poucos, sem parar de bater. Acrescente a gema e a geléia, bata bem até obter uma mistura homogênea.

Xarope: numa panelinha, misture a água e o açúcar. Leve ao fogo médio até ferver. Desligue e deixe esfriar. Misture o kirsch. Reserve.

Montagem do bolo: com bastante cuidado, descole um dos discos de suspiro do papel manteiga e coloque-o num prato. Espalhe 1/3 do creme de manteiga sobre ele. Cubra com a genoise e embeba-a fartamente com o xarope de kirsch. Delicadamente, passe 1/3 do creme de manteiga sobre o bolo e cubra-o com o segundo disco de suspiro. Espalhe o creme de manteiga restante nas laterais do bolo e “cole” as avelãs picadas no creme. Usando uma peneira, polvilhe a superfície do bolo com o açúcar de confeiteiro e faça um desenho quadriculado na superfície usando as costas de uma faca.
Mantenha na geladeira, mas sirva-o em temperatura ambiente – na geladeira o bolo fica bem durinho.

Fonte: “As Cem Receitas Mais Famosas do Mundo”, de Roland Gööck + uma ajudinha daqui

Zuger Kirschtorte

34 comentários:

Ana disse...

Nossa, que bolo! Muito bonito e complexo, deve ser uma delicia!
Adorei a historia da Neusa!
Agradece a ela por dividir essa receita com a gente! Gostei mesmo!
Ana

Lua Limaverde disse...

Adorei a história e a atitude da Neusa! Que lição! E o bolo é um espetáculo, espero um dia ter coragem e talento para fazê-lo assim tão bonito! :)

Marcia disse...

Patricia, me matei de rir com a história da Neusa! Por que será que as pessoas não gostavam de trocar receitas antigamente? Esse costume me incomoda... Graças a Deus, as pessoas são abertas e generosas na blogsfera! O bolo ficou lindo! Bj

Marcia disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Noelle Aquino disse...

Que bacana essa história! E que bolo!!! Parabés à vocês duas! =D

Mari disse...

Me apaixonei pela torta e principalmente pela Neusa.
Com certeza, testarei esta receita e compartilharei com mais várias pessoas.

Leila disse...

Pat, parece ser uma delicia. mas dá trabalho nao dá?
beijinhos

Marcia H disse...

que legal a estória da Neusa, ainda bem q a minha sogra nao é assim
lindo bolo, deve ter ficado delicioso

Renata disse...

Que bom que você não esconde receitas, Patricia.

esse bolo parece delicioso.

Clumbsy Cookie disse...

O meu professor de pastelaria dizia sempre que as receitas devem ser partilhadas. O lema dele era "se não te derem a receita, roba-a", lol! Já trabalhei num lugar onde não deixavam copiar receitas e eu detestava. Acho isso uma parvoíce, porque não é a receita que faz 100% o producto final. Enfim...
O bolo deve ser uma delicia, a tua colega deve ter ficado muito contente de ter encontrado a receita!

Anônimo disse...

Menina, mas que sogra danada, hein. Que custava dar a receita... ainda bem que a Neusa é vingativa e o bolo dela ainda deve ter ficado melhor...rs.
E sempre tenho a impressão que engordo quando visito seu blog...rs.

Axly disse...

Adorei a história! Que vingança fenomenal...
E a receita então, que delicadeza. Esse creme de manteiga deve ser divino^^
Kisss!

Karina disse...

Menina, estou boba com essa receita... deve ser mesmo deliciosa. Muito obrigada por compartilhar. Vou favoritar, mas acho que ainda preciso de muito treino para fazê-la.. bjos querida, e bom fim de semana.

Elvira disse...

Todos os seus bolos parecem sair de uma pastelaria fina. Você tem mesmo muito talento, Patricia. :-)

Beijos.

Akemi disse...

Como dizem, vingança é um prato que se come frio! rss
Ótima esta estória e volta e meia também encontro pessoas que dão a maior volta quando peço uma receita. Parabéns a Neusa e a vc por compartilhar este lindo doce conosco! Bjs

Silvinha disse...

Hahaha, morri de rir com a història da Neusa, especialmente porque me lembrou da mousse de chocolate da minha sogra! Geralmente ela até é uma pessoa acessìvel, mas quando pedi a receita da tal mousse, uma sobremesa feita em todo final de ano e pela qual todo mundo baba, 1° ela se enrolou... mas como eu não desisto, depois ela me deu a receita... errada!

Sua torta ficou espetacular, que sobremesa delicada!

Beijos e bom final de semana!

Júlia Nascimento disse...

Receita divina e historia pra escutar comendo um pedaço deste maravilha e uma chicara de cha!!!
Ficou lindo
bjinhos

Beatriz Belliard disse...

Muita engraçada a hostoria da Neusa ! E a sua torta esta linda, muito mais bonita que a do livro, eu tenho ele, foi um dos meus primeiros livros de receitas...beijinhos

Tina Lopes disse...

Pagava caro pra ver a cara da sogra da Neusa. Adorei. Aliás, minha sogra que é bem legal nunca, digo nunca, deu a receita certa do maravilhoso pão que ela faz. Nem pro filho - meu marido!

Andreia disse...

O bolo ficou fantástico! Lindo mesmo!

Bjs

Anônimo disse...

Patrícia,

Isso é o que eu chamo de dar tapa com luvas de cozinha, quer dizer, de pelica... [rs]
Já me deparei com situações semelhantes à da Neusa - mas não foi com a minha sogra, que era um doce de pessoa - mas com colegas de trabalho.
E tenho que dar meus parabéns à Neusa, pois eu faria a mesma coisa...
O bolo parece ser divino!

bjo.
Elaine

Karen disse...

Parece delicioso!

Anônimo disse...

Oi Patricia!
Vim trazida por um comentário da Akemi na minha cozinha e A-D-O-R-E-I!!! Da doce vendetta da Neusa ao seu modo de contar, sem esquecer da receita! ;-)))
Eu também já cruzei com alguém da mesma tribo da sogra da Neusa!;-)))

Patricia Scarpin disse...

Ana, ela adorou o bolo e fiquei contente.

Luna, talento você tem de sobra, amiga.

Marcia, concordo contigo, os blogueiros são maravilhosos!
Beijos!

Noelle, obrigada!

Mari, ela vai ficar toda contente quando ler os comentários. :)

Leila, querida, dá, sim, mas vale a pena.
Beijos!

Marcia, a minha sogra é um doce, também, tenho sorte! :)

Renata, não escondo, não, pelo contrário. ;)
Beijo, querida!

Rita, também acho que as receitas devem ser divididas, isso é que as torna especiais!

Bia, a Dra. Neusa é danada, viu? :)

Axly, a geléia dá um sabor bem diferente a ele.

Karina, é trabalhosa, mas se você se organizar, dá certinho. Tem que ter paciência. :)

Elvira, você é muito generosa, obrigada!
xx

Clarice, querida, eu amei a história dela e fiquei muito contente quando ela sugeriu que eu a contasse aqui no blog.
Beijo grande!

Silvinha, sério? Que sacanagem!
Beijo, querida!

Júlia, depois vou responder o teu email!
Beijos!

Bia, é mesmo, amiga? Que coincidência!
Beijos!

Tina, eu também queria ser uma mosquinha numa hora dessas... :)
E essa sua sogra, hein? :S

Andreia, obrigada!

Elaine, ela realmente agiu de maneira superior! :)
Beijo!

Karen, obrigada!

Ana, que bom que gostou, obrigada pela visita!

Luciana Macêdo disse...

Deve ter sido ótimo poder fazer o bolo que tanta desejava.
Agora o desejo é meu, já estou imaginando a delícia que deve ser.
Bjs!

Fabrícia disse...

Patricia,
Adorei tudo...o causo,a receita e a postura da Neusa. Outro dia mesmo me deram uma receita errada...propositalmente.. bom a contece. A Neusa esta de parabens...
Bjs para ti e para a Neusa.

Laurinha disse...

Patricia, você é ótima!!!
Até imaginei a 'sogra' um tanto desconfortável, se deliciando com o-bolo-que-nunca-viu-como-você-conseguiu-essa-receita... divertidíssimo.

Agora, o bolo, menina, por tantos outros e por este, você tem talento!!! Decifrou e se esmerou! Fantástico! Parabéns!

Beijinhos,

Cinthya Rachel disse...

que bolo incrível! e adorei a história. tenho uma parecida com uma vizinha, um bolo de café deliciosooooooooo. mas ela nao deu a receita pq era de família

Cris disse...

Dá um beijo na Neusa por mim... que sonho de bolo e ela... muito sábia... hehehe. Beijinhos, amei demais esta receita!!!

Letrícia disse...

Não sei o que deve ser mais saboroso - o bolo ou a história. Adorei! As fotos estão um luxo, como sempre :-)

Anônimo disse...

Olá! Adorei a história, tanto que decidi fazer o bolo. Apesar de ter tido uns probleminhas, o bolo ficou bom. Vou fazê-lo novamente e tenho certeza que ficará maravilhoso. Tenho algumas dúvidas e gostaria que você me ajudasse, se possível.
Primeiro é em relação ao suspiro: O meu ficou meio duro, acho que as amêndoas pesaram (moí em casa, no processador, será esse foi o problema?).
Segundo: Não encontrei o Kirsch, nem na importadora de bebidas. Usei Vodka diluída, mas não ficou bom. Você saberia qual bebida seria uma boa substituta? E a proporção? É 120 ml mesmo?

Agradeço a atenção desde já e aproveito para desejar a você e a todos que frequentam o blog um Próspero 2010, cheio de realizações, harmonia e felicidade.

Um grande abraço a todos.
Juliana

PS - A genoise é m-a-r-a-v-i-l-h-o-s-a!!!! Vai ser meu bolo básico daqui para frente! Eu nunca tinha feito uma massa tão perfeita! Amei!!!!

Patricia Scarpin disse...

Oi, Juliana! Tudo bem?
Eu também tive problemas da primeira vez que o fiz pois a receita estava muito incompleta.
As amêndoas devem ser moídas finamente, mas suspiro é meio chatinho de fazer, nem sempre funciona... Tem que checar a temperatura do forno, também.
Não sei o que poderia substituir o kirsch, que tem um sabor bem marcante. E a proporção é essa, sim.
Muito obrigada pelo comentário, obrigada também por vir me contar do bolo!
Um abraço!

Mafalda Ofélia disse...

Acho que na falta do kirsch poderia se usar o rum branco, que tem um gosto que combina muito bem com doces (vide o Babá au Rhum! :p). O rum escuro eu não usaria pois além de mudar a cor da genoise, tem um sabor mais marcante.
Adorei a estória e a receita. Vou fazer também!!!!
Um abraço.

Patricia Scarpin disse...

Maria Fernanda, obrigada pela dica! O rum descaracterizaria um tantinho a receita, mas dá certo, sim.
Boa sorte!