Assisti ao trailer de “Drive” muitos e muitos meses atrás e depois disso não consegui esquecer o filme: havia nele uma aura parecida com alguns dos clássicos dos anos 1970 que amo profundamente – “Operação França”, “Taxi Driver” e “O Poderoso Chefão” me vieram à mente na mesma hora – enquanto que as letras cor-de-rosa neon e a música me passavam uma coisa meio anos 1980. Tinha um bom pressentimento sobre o filme e o prêmio recebido em Cannes me deixou ainda mais curiosa. Por meses esperei, pacientemente, até a noite retrasada, quando fui premiada com 100 minutos de pura obra-prima.
*spoilers*
Segundos após o filme começar meu queixo já estava caído com o quão perfeitamente os primeiros acordes da música se encaixavam à cena e poucos minutos depois eu já estava prendendo a respiração sem sequer ter notado – quantos filmes fazem com que nos sintamos assim logo nos momentos iniciais? Quando Ryan Gosling apareceu em seu carro pela primeira vez, com a canção poderosa ao fundo e a cidade à noite sendo vista de cima eu soube, tive certeza de que o que me aguardava era algo extremamente especial (a trilha sonora é tão fantástica que não consegui parar de ouvi-la até agora). Quando o filme acabou eu estava com os olhos marejados, estupefata e encantada com algo tão lindo e tão perfeito e desejei, do fundo do coração, que mais filmes como “Drive” aparecessem no meu caminho no futuro, pois me fez sentir exatamente como Friedkin, Coppola e Scorsese fizeram na minha adolescência. Havia esperado por tanto tempo ser surpreendida de um jeito bom assim que saí do cinema em estado de graça.
Como uma história tão violenta pode ser contada de um jeito tão poético? Para mim é impossível não reverenciar esse tipo de cinema hoje em dia porque é muito raro. A cena em que o personagem de Gosling carrega Benicio no colo e é visto pelas costas pela mãe do menino é de uma beleza ímpar e fez o meu coração parar. Refn realmente sabe como mover a câmera e nos brinda com centenas de enquadramentos interessantes durante todo o filme (como o carro capotando ao fundo e Christina Hendricks à frente).
O elenco é incrível e Albert Brooks deveria ter sido incluído nas indicações ao Oscar deste ano – acho que ele está fabuloso como Bernie e seu personagem e o motorista têm o melhor diálogo do filme (“minhas mãos estão meio sujas / as minhas também”). Ron Pearlman e Bryan Cranston – como não amar? E, para finalizar, Gosling: quem assistiu a “Tudo pelo Poder” sabe a profundidade que seu olhar possui – ele derrama toneladas de emoção sem sequer abrir a boca. “Drive” está aqui para provar que este jovem ator é realmente talentoso – quantos atores bonitos com todos os meios para se tornarem galãs e ganharem rios de dinheiro com comédias românticas encarariam um papel como este? Ou este? Poucos. Um ator ousado como Gosling era exatamente do que “Drive” precisava. Ele é o filme e me parece ter se colocado inteiramente nas mãos do diretor, com um sentimento de completa confiança – o que me lembra Viggo e a cena da sauna em “Senhores do Crime”: apenas um ator que confia plenamente em seu diretor pode ter uma performance como aquela em uma cena difícil como aquela; creio que este é o tipo de relacionamento que “Drive” iniciou entre Gosling e Refn e depois de ler que os dois estão fazendo outro filme juntos tudo o que posso dizer é “amém”.
***
Antes que eu me esqueça: façam esses brownies – eles são absurdamente deliciosos.
Brownies com praliné de pecã
de um livro ótimo que eu deveria e pretendo usar mais vezes
- xícara medidora de 240ml
Praliné:
1 xícara (110g) de pecãs, levemente tostadas e frias
2/3 xícara (133g) de açúcar granulado ou refinado, de preferência orgânico
½ colher (chá) de suco de limão tahiti ou siciliano
Brownie:
6 colheres (sopa) - 84g - de manteiga sem sal
140g de chocolate meio-amargo, picado
56g de chocolate 99% de cacau*, picado – comprado aqui
3 ovos grandes, de preferência orgânicos
1 ½ colheres (chá) de extrato de baunilha
1 xícara (200g) de açúcar granulado, de preferência orgânico
¾ xícara (105g) de farinha de trigo
¼ colher (chá) de sal
Comece preparando o praliné: unte levemente com óleo uma assadeira e reserve.
Coloque o açúcar e o suco de limão em uma panela de fundo grosso e misture para combinar os ingredientes – a mistura parecerá areia úmida. Leve ao fogo médio-alto, girando a panela algumas vezes – não mexa com colher ou espátula. Pincele as laterais da panela com um pincel úmido para remover quaisquer cristais de açúcar. Quando o açúcar derreter e caramelizar retire a panela do fogo e imediatamente junte as pecãs – com cuidado pois o caramelo pode espirrar. Volte a panela ao fogo baixo e misture apenas até a mistura começar a borbulhar – imediatamente derrame o praliné sobre a assadeira untada, espalhando-o o máximo possível. Deixe esfriar completamente.
Agora, o brownie: pré-aqueça o forno a 180°C. Unte uma assadeira de 22x32cm e forre-a com papel alumínio, deixando sobras em dois lados opostos, formando “alças”. Unte o papel também.
Pique o praliné em pedacinhos de pouco mais de 1cm. Reserve.
Coloque a manteiga em uma tigela refratária e leve ao banho-maria (fogo baixo) até derreter. Retire a tigela do fogo e junte o chocolate. Deixe por 5 minutos e então misture gentilmente até o chocolate derreter. Em uma tigela grande, misture os ovos e a baunilha até misturá-los. Junte o açúcar e misture somente até combinar. Acrescente a mistura de chocolate, misturando somente até incorporar. Peneire e farinha e o sal sobre a mistura em duas adições e misture somente até incorporar. Despeje a massa na assadeira preparada e asse por 10-12 minutos ou somente até o topo firmar – os brownies começarão a se desprender das laterais da forma. Retire do forno e salpique todo o praliné sobre o brownie, sem pressionar. Volte ao forno por mais 8-9 minutos ou somente até que o praliné comece a derreter. Retire do forno a deixe esfriar completamente na forma, sobre uma gradinha. Corte em quadradinhos ou barrinhas e sirva.
* acho que fazer a receita somente com chocolate meio-amargo daria certo, não é estritamente necessária a utilização do chocolate 99% (minha opinião)
Rend.: 24 barrinhas – fiz exatamente a receita acima usando uma forma de 20x30cm
18 comentários:
Oi Patricia!
Eu ainda nao vi Drive, mas com tamanha recomendação vou ver com certeza! É a segunda vez quem leio sobre esse filme nos blogs de cuilinária, minha curiosidade já está aguçada!
Beijos!
Pati!
Também amei de paixão "Drive", é um filme que fica em você por um tempo. E a trilha sonora é algo sensacional. E combinou tão bem com o filme! Fazia um tempo que não via um filme tão bom como esse.
ps: os brownies parecem deliciosos. Beijo!
Patricia, seus brownies estão lindos e parecem bem gostosos, amo brownies! Mas qto ao filme Drive... juro q senti mta emoção tb, a música combina perfeitamente com o filme (tanto q estou viciada e vivo ouvindo principalmente a música tema...linda! O Ryan está simplesmente lindo e o q adorei é q apesar de ele ser "bandido" no filme, mostra q todos tem um lado bom e ruim, ninguém é 100% de um jeito ou de outro o tempo todo... Pretendo rever mais vezes esse filme...viciei! hahahaha :) Beijos Tereza
Hum.. nosso gosto e´igual pra comida..mas pra filme.. caramba, estou no youtube vendo, detestei tudo!! rá ra´! A música , pra mim, é horrível!:-)) mas esse docinho é de matar de bom! Achoq ue é idade, é filme e música pra jovem.
Patricia, eu lembrei de Marcas da Violência também do Cronemberg com o Viggo. Mas agora que você lembrou da cena da sauna em Senhores do Crime tem muito dela em Drive mesmo. Talvez o Cronemberg seja o único que consegue mostrar essa violência sincera, que existia em Taxi Driver e Scarface, ainda bem que parece surgir um novo diretor.
Oi Paty
Serio que vc gostou tantoa assim desse filme?! Assisti no ultimo sabado e não via a hora dele acabar para poder sair do cimena e ir jantar!!! hahaha... Meu marido também destestou, mas como para ele o melhor filme do mundo é "Gigantes de Aço", não podemos dar muito crédito....
Sempre lembro de vc quando assisto o programa da Donna Hay no Fox Life... Ela é bacana, mas o Bill Granger continua sendo meu favorito...
Bjs
Paty Vieira
Ai, Pati, vou ver hoje mesmo. =O
Patrícia, não costumo comentar no seu blog, apenas o leio - e com muito prazer!-.
Desta vez, no entanto, precisava escrever sobre Drive. Coincidentemente eu ACABEI de assisti-lo, digo, faz poucos minutos mesmo. Simplesmente é uma obra prima, e por isso, adorei ler uma opinião sobre ele que reflete o que eu estou sentindo agora. Confesso que me causou uma certa tristeza ao final - a trilha sonora contribui-, mas uma tristeza causada por um filme que foi capaz de me tocar. E isso é bom!
Divino, Pat, divino. Vou sonhar com esse brownie.
Olá Patricia,
Nossa!!! Parabéns!!! Adoro tudo o que você faz...
Grande beijo e um ótimo final de semana, Irene
Hummm!
Que delícia!
Interessante!
Bom final de semana!
Beijão Jê!
postagem combo de delícia: brownie e Ryan.
preciso falar nada, né? meu ator preferido desde The Believer (ah, se eu o tivesse visto no clube do mickey...). Half Nelson vida pura, e Lars... o melhor filme de todos os tempos.
eu gostei muito de Drive - filme esperaaaado - mas não sabia que tinha gostado tanto como percebi agora. quanto mais penso, quanto mais tempo passa, mais eu gosto.
a cena do elevador é uma coisa linda - acaba grotescamente, e eu até gritei - mas é linda. concordo com o que disse sobre o diretor: manda benzão.
e a trilha, e a jaqueta, e a falta de nome próprio da personagem principal... tudo dá certo.
e Gosling, né?
tão crocante e cremoso como esse brownie.
amo.
=*
Lembrei de você hoje porque vi que Drive não está mais em cartaz aqui em BH! Mas finalmente W.E. estreiou. Já assistiu, Pat? Não sei do trabalho da Madonna, mas amo filmes sobre a família real!!!
Seus brownies ficaram lindos e devem estar deliciosos, mas hoje vou testar uma receita sua de profiteroles. Fiquei complexada por q vi no Junior Masterchef crianças de 12 anos fazendo profiteroles perfeitos!!!! Depois te conto, beijos,
Ai que deliciiiaaa!!
Blog irresistível!
beeijos
papocazamiga.blogspot.com
Que bonito blog, tremendamente inspirador, muitos parabéns.
Aqui deixo a morada para a minha cozinha e um convite a uma visita
http://technicolorkitchen.blogspot.com/
MM
Paty, vi Driver no aviao, a caminho de Manila. Deu vontade de ver duas vezes, de tanto que gostei. E a trilha sonora é arrebatadora, pungente, perfeitamente colocada, lembrou-me Blade Runner com os temas perfeitamente colocados. Muito bom filme, mesmo. E quando voltar para casa (não vejo a hora...)vou fazer esta receita. abs
Oi, Letícia!
O final tem um toque melancólico, sim, mas isso só contribui para a grandiosidade que é o filme. Que bom que vc resolveu comentar, adorei!
Bj!
Wair, "Blade Runner" é vida! Adorei a comparação de trilhas. Também quero ver "Drive" de novo. :)
Beijo!
Oh Meu Deus que bom aspecto! Tenho de me dedicar a fazer a receita
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