Dias desses, pensando na vida, me toquei do quanto sou movida a lembranças.
Penso em quando o Pingo era bebê e eu dava banho nele em cima da minha cama, em uma banheira que o João comprou para quando ele viesse aqui – se fechar os olhos, parece que consigo sentir o cheiro do xampuzinho dele.
Ao ouvir determinadas canções, lembro dos meus anos na faculdade, pegando o ônibus antes das seis da manhã, ponto deserto, via Anchieta escura, walkman na bolsa para a longa viagem de ônibus, seguido de metrô.
Lembro de minha mãe todos os dias, nem que seja uma vezinha sequer: uma comida de que ela gostava, uma música, uma expressão que sai de minha boca e que ela dizia quando eu era pequena, e me dou conta do quanto trago dela comigo, mesmo tendo convivido por apenas sete anos.
Em um almoço, muito antes da pandemia, Pingo disse que o meu macarrão estava “da pontinha da orelha” - pegou na ponta da orelhinha e fez o João repetir o gesto. Sorri para ele, pegando também na ponta da minha orelha, mas minha voz embargou na hora, porque eu havia, sem querer, ensinado a ele algo que era muito característico de minha mãe. Ele ali, na minha frente, sorrindo e falando algo que a avó que ele nem sabe que existiu falava todos os dias na hora do almoço e do jantar. Olhei pra ele com muita ternura, vendo em seu rostinho os traços de Dona Tereza, o nariz idêntico, a alegria à mesa, a carinha de felicidade, e meu coração parece ter parado de bater por um momento. Hoje, lembrando da cena, meus olhos ficam marejados e a saudade aperta demais, tanto de meu pequeno, quanto de minha mãe.
Sim, lembranças me servem de combustível, e acho que ainda mais neste momento que vivemos, de pandemia, de um país sendo desmontado, de discursos de ódio sendo naturalizados, de uma realidade que parece filme distópico: vou me agarrar a elas para não sufocar.
A receita de hoje é nova, mas eu imediatamente me lembro de minha mãe todas as vezes em que faço ou como beterraba – era um de seus legumes favoritos. A massa da panqueca é uma adaptação da que postei tempos atrás, de espinafre, e o recheio é muito gostoso – use-o em uma panqueca tradicional se preferir economizar tempo. Recheei as panquecas, arrumei em um refratário e cobri com colheradas de requeijão antes de levar ao forno, ideia de molho que peguei da Raquel do @borafazer.
O recheio da receita
abaixo que trago hoje é suficiente para 10 crepes – congelei os outro 8 e servi
em outro momento, com outro recheio. Se quiser aprender como eu faço as
beterrabas assadas, clique aqui.
Panquecas de beterraba
com recheio de ricota e espinafre
receita minha,
adaptada desta aqui
Massa:
½ beterraba média,
assada e fria (havia sobrado do almoço do dia anterior)
350ml de leite
integral, temperatura ambiente – usei água + leite em pó
½ colher (chá) de sal
1 pitada de pimenta do
reino moída na hora
1 ovo, temperatura
ambiente
1 ¼ xícaras (175g) de
farinha de trigo
1 colher (chá) de
fermento em pó
Recheio:
1 dente de alho bem
picadinho ou ralado
1 colher (sopa) de
azeite
4 xícaras de espinafre
(260g), somente as folhas (aperte na xícara na hora de medir)
sal e pimenta do reino
moída na hora
1 pitada de noz-moscada
ralada na hora
1 xícara (165g) de
ricota – usei caseira, receita aqui (para esta quantidade de ricota, foram
600ml de leite)
½ xícara (35g) de
mozarela amarela ralada grosseiramente
Molho:
¾ xícara de requeijão
3 colheres (sopa) de
parmesão ralado fininho
Comece pela massa da panqueca: no liquidificador, junte a beterraba, o leite, a água, o sal, a pimenta, o ovo e o espinafre e bata até obter uma mistura homogênea. Junte a farinha e o fermento e bata novamente até misturar – talvez você precise ajudar o liquidificador com uma espátula, empurrando a farinha que ficar grudada nas laterais do copo. Faça isso sempre com o liquidificador desligado e com cuidado. Quando a massa estiver homogênea, deixe descansando em temperatura ambiente por 30 minutos – enquanto isso, faça o recheio.
Recheio: em uma frigideira antiaderente grande, aqueça o azeite em fogo médio e junte o alho. Refogue por 1 minuto apenas – não deixe o alho queimar, ou vai ficar amargo. Acrescente o espinafre e refogue, mexendo, até murchar. Tempere com sal, pimenta do reino e a noz-moscada. Desligue o fogo e deixe esfriar. Aperte o espinafre em uma peneira para remover o excesso de água. Incorpore a ricota e a mozarela.
Faça as panquecas: aqueça uma frigideira antiaderente em fogo médio. Derrame porções da massa no centro da frigideira e gire para que a massa cubra todo o fundo. Deixe cozinhar por alguns segundos, vire e cozinhe do outro lado por mais alguns segundos. Transfira para um prato e prossiga com o restante da massa – a minha frigideira tem 20cm de diâmetro e com ela a receita rende 18 panquecas. Se após o descanso a sua massa estiver espessa demais, junte um pouquinho de água e misture com a espátula.
Coloque porções do recheio - aproximadamente 2 colheres (sopa) – na ponta de cada panquequinha e enrole de maneira firme, formando um canudo. Transfira para um refratário. Cubra com o requeijão, salpique com o parmesão e leve ao forno por 20 minutos. Sirva imediatamente.
Rend.: 18 panquecas,
usando uma frigideira de 20cm de diâmetro. O recheio desta receita é suficiente
para as 10 panquecas; congelei as 8 restantes e servi outro dia, com outro recheio.