Geralmente escrevo sobre mim, minha família e amigos aqui. Compartilho com meus leitores a comida, a música e os filmes que adoro. Mas hoje vou lhes contar uma história de alguém que trabalha na mesma empresa que eu; a Neusa será a personagem deste post.
Em uma das visitas à sua sogra, foi-lhe servido um lindo e delicioso bolo para o chá. O bolo povoou os pensamentos de Neusa por um bom tempo – era, realmente, uma sobremesa fantástica. Ela finalmente pediu a receita à sogra, e a resposta foi uma surpresa: “Você deve estar enganada; nunca lhe servi isso. Desculpe-me, mas não sei do que está falando”.
Neusa não estava enganada nem havia sonhado com o bolo. Algumas sogras não são boas no quesito diálogo, e ela logo aprendeu que a dela, apesar de ser uma verdadeira lady, encaixava-se no perfil.
Sabemos que quem espera sempre alcança e, um belo dia, Neusa mal podia acreditar no que havia em suas mãos – enquanto folheava um dos livros de sua prima, deu de cara com uma foto do bolo. AQUELE bolo. O bolo “nunca-lhe-servi-isso-você-deve-estar-enganada”. Nem preciso dizer que ela fez uma cópia da receita e preparou o bolo, né?
Sim, ela o preparou, e o bolo ficou maravilhoso. Adivinhem o que Neusa serviu à sogra quando a recebeu em casa? Ah, a vingança pode ser algo tão doce... :)
Neusa me deu a missão de fazer o bolo, também – um Zuger Kirschtorte. Ela quer que por meio do blog outros tenham acesso à receita, algo que a sogra dela jamais aprovaria. Neusa me contou que a sogra dela nasceu em 1914 e que, para algumas pessoas daquela geração, receitas de família não deveriam ser compartilhadas; a idéia era que fossem preparadas e servidas aos convidados que, impressionados com a comida, nunca saberiam como prepará-la.
A receita do livro que a Neusa trouxe não era tão precisa e levei umas rasteiras da danada. Mas finalmente consegui finalizá-la e a posto com todos os detalhes possíveis.
Ela ainda fez a gentileza de me emprestar este prato lindíssimo – uma peça alemã – para que eu fotografasse o bolo numa relíquia de família. Vejam só como ela é elegante – uma verdadeira lady, também. ;)
Zuger Kirschtorte
Suspiro de amêndoas:
4 claras
120g de açúcar de confeiteiro
20g de maisena
100g de amêndoas moídas
Genoise:
3 ovos, claras e gemas separadas
3 colheres (sopa) de água quente
80g de açúcar de confeiteiro, peneirado
10g de açúcar refinado
50g de farinha de trigo
50g de maisena
1 pitada de fermento em pó
Creme de manteiga (buttercream):
150g de manteiga sem sal, em temperatura ambiente
150g de açúcar de confeiteiro, peneirado
1 gema
50g de geléia de groselha – usei de amora
Xarope:
4 colheres (sopa) de água
20g de açúcar refinado
120ml de kirsch
Para polvilhar:
100g de amêndoas torradas e picadas – deixei-as com casca para dar um colorido ao bolo
70g de açúcar de confeiteiro
Comece pelo suspiro: pré-aqueça o forno a 160ºC. Desenhe dois círculos de 25cm de diâmetro em um pedaço grande de papel manteiga. Coloque-o numa forma retangular grande, de beiradas baixas, e unte bem o interior de cada círculo com manteiga. Peneire o açúcar de confeiteiro, junte a maisena e as amêndoas moídas e reserve. Bata as claras em ponto de neve firme; desligue a batedeira e junte os ingredientes reservados com uma espátula de silicone/borracha, misturando delicadamente. Espalhe o merengue dentro dos círculos no papel manteiga, deixando 0,5cm de bordas livres (o merengue se espalhará). Leve ao forno por 40-50 minutos, até que os discos de merengue dourem. Desligue o forno e deixe o merengue esfriar lá dentro por pelo menos 4 horas (pode ser feito de véspera).
Genoise: Pré-aqueça o forno a 175ºC; unte uma forma redonda de 25cm de diâmetro, de fundo removível, forre o fundo com papel manteiga e unte o papel.
Na batedeira, bata as gemas com a água quente, até se tornaram uma espuma espessa; junte aos poucos o açúcar de confeiteiro. Reserve.
Bata as claras em ponto de neve firme; acrescente o açúcar refinado e bata. Junte a mistura de claras ao creme de gemas e peneire sobre eles a farinha, a maisena e o fermento. Misture tudo delicadamente com uma espátula de borracha/silicone. Despeje a massa na forma preparada e leve ao forno por 25-30 minutos, ou até que esteja assada – o bolo se descolará das laterais da assadeira.
Deixe esfriar completamente sobre uma grade.
Creme de manteiga: bata a manteiga até obter um creme. Vá juntando o açúcar aos poucos, sem parar de bater. Acrescente a gema e a geléia, bata bem até obter uma mistura homogênea.
Xarope: numa panelinha, misture a água e o açúcar. Leve ao fogo médio até ferver. Desligue e deixe esfriar. Misture o kirsch. Reserve.
Montagem do bolo: com bastante cuidado, descole um dos discos de suspiro do papel manteiga e coloque-o num prato. Espalhe 1/3 do creme de manteiga sobre ele. Cubra com a genoise e embeba-a fartamente com o xarope de kirsch. Delicadamente, passe 1/3 do creme de manteiga sobre o bolo e cubra-o com o segundo disco de suspiro. Espalhe o creme de manteiga restante nas laterais do bolo e “cole” as avelãs picadas no creme. Usando uma peneira, polvilhe a superfície do bolo com o açúcar de confeiteiro e faça um desenho quadriculado na superfície usando as costas de uma faca.
Mantenha na geladeira, mas sirva-o em temperatura ambiente – na geladeira o bolo fica bem durinho.
Fonte: “As Cem Receitas Mais Famosas do Mundo”, de Roland Gööck + uma ajudinha daqui
Nossa, que bolo! Muito bonito e complexo, deve ser uma delicia!
ResponderExcluirAdorei a historia da Neusa!
Agradece a ela por dividir essa receita com a gente! Gostei mesmo!
Ana
Adorei a história e a atitude da Neusa! Que lição! E o bolo é um espetáculo, espero um dia ter coragem e talento para fazê-lo assim tão bonito! :)
ResponderExcluirPatricia, me matei de rir com a história da Neusa! Por que será que as pessoas não gostavam de trocar receitas antigamente? Esse costume me incomoda... Graças a Deus, as pessoas são abertas e generosas na blogsfera! O bolo ficou lindo! Bj
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirQue bacana essa história! E que bolo!!! Parabés à vocês duas! =D
ResponderExcluirMe apaixonei pela torta e principalmente pela Neusa.
ResponderExcluirCom certeza, testarei esta receita e compartilharei com mais várias pessoas.
Pat, parece ser uma delicia. mas dá trabalho nao dá?
ResponderExcluirbeijinhos
que legal a estória da Neusa, ainda bem q a minha sogra nao é assim
ResponderExcluirlindo bolo, deve ter ficado delicioso
Que bom que você não esconde receitas, Patricia.
ResponderExcluiresse bolo parece delicioso.
O meu professor de pastelaria dizia sempre que as receitas devem ser partilhadas. O lema dele era "se não te derem a receita, roba-a", lol! Já trabalhei num lugar onde não deixavam copiar receitas e eu detestava. Acho isso uma parvoíce, porque não é a receita que faz 100% o producto final. Enfim...
ResponderExcluirO bolo deve ser uma delicia, a tua colega deve ter ficado muito contente de ter encontrado a receita!
Menina, mas que sogra danada, hein. Que custava dar a receita... ainda bem que a Neusa é vingativa e o bolo dela ainda deve ter ficado melhor...rs.
ResponderExcluirE sempre tenho a impressão que engordo quando visito seu blog...rs.
Adorei a história! Que vingança fenomenal...
ResponderExcluirE a receita então, que delicadeza. Esse creme de manteiga deve ser divino^^
Kisss!
Menina, estou boba com essa receita... deve ser mesmo deliciosa. Muito obrigada por compartilhar. Vou favoritar, mas acho que ainda preciso de muito treino para fazê-la.. bjos querida, e bom fim de semana.
ResponderExcluirTodos os seus bolos parecem sair de uma pastelaria fina. Você tem mesmo muito talento, Patricia. :-)
ResponderExcluirBeijos.
Como dizem, vingança é um prato que se come frio! rss
ResponderExcluirÓtima esta estória e volta e meia também encontro pessoas que dão a maior volta quando peço uma receita. Parabéns a Neusa e a vc por compartilhar este lindo doce conosco! Bjs
Hahaha, morri de rir com a història da Neusa, especialmente porque me lembrou da mousse de chocolate da minha sogra! Geralmente ela até é uma pessoa acessìvel, mas quando pedi a receita da tal mousse, uma sobremesa feita em todo final de ano e pela qual todo mundo baba, 1° ela se enrolou... mas como eu não desisto, depois ela me deu a receita... errada!
ResponderExcluirSua torta ficou espetacular, que sobremesa delicada!
Beijos e bom final de semana!
Receita divina e historia pra escutar comendo um pedaço deste maravilha e uma chicara de cha!!!
ResponderExcluirFicou lindo
bjinhos
Muita engraçada a hostoria da Neusa ! E a sua torta esta linda, muito mais bonita que a do livro, eu tenho ele, foi um dos meus primeiros livros de receitas...beijinhos
ResponderExcluirPagava caro pra ver a cara da sogra da Neusa. Adorei. Aliás, minha sogra que é bem legal nunca, digo nunca, deu a receita certa do maravilhoso pão que ela faz. Nem pro filho - meu marido!
ResponderExcluirO bolo ficou fantástico! Lindo mesmo!
ResponderExcluirBjs
Patrícia,
ResponderExcluirIsso é o que eu chamo de dar tapa com luvas de cozinha, quer dizer, de pelica... [rs]
Já me deparei com situações semelhantes à da Neusa - mas não foi com a minha sogra, que era um doce de pessoa - mas com colegas de trabalho.
E tenho que dar meus parabéns à Neusa, pois eu faria a mesma coisa...
O bolo parece ser divino!
bjo.
Elaine
Parece delicioso!
ResponderExcluirOi Patricia!
ResponderExcluirVim trazida por um comentário da Akemi na minha cozinha e A-D-O-R-E-I!!! Da doce vendetta da Neusa ao seu modo de contar, sem esquecer da receita! ;-)))
Eu também já cruzei com alguém da mesma tribo da sogra da Neusa!;-)))
Ana, ela adorou o bolo e fiquei contente.
ResponderExcluirLuna, talento você tem de sobra, amiga.
Marcia, concordo contigo, os blogueiros são maravilhosos!
Beijos!
Noelle, obrigada!
Mari, ela vai ficar toda contente quando ler os comentários. :)
Leila, querida, dá, sim, mas vale a pena.
Beijos!
Marcia, a minha sogra é um doce, também, tenho sorte! :)
Renata, não escondo, não, pelo contrário. ;)
Beijo, querida!
Rita, também acho que as receitas devem ser divididas, isso é que as torna especiais!
Bia, a Dra. Neusa é danada, viu? :)
Axly, a geléia dá um sabor bem diferente a ele.
Karina, é trabalhosa, mas se você se organizar, dá certinho. Tem que ter paciência. :)
Elvira, você é muito generosa, obrigada!
xx
Clarice, querida, eu amei a história dela e fiquei muito contente quando ela sugeriu que eu a contasse aqui no blog.
Beijo grande!
Silvinha, sério? Que sacanagem!
Beijo, querida!
Júlia, depois vou responder o teu email!
Beijos!
Bia, é mesmo, amiga? Que coincidência!
Beijos!
Tina, eu também queria ser uma mosquinha numa hora dessas... :)
E essa sua sogra, hein? :S
Andreia, obrigada!
Elaine, ela realmente agiu de maneira superior! :)
Beijo!
Karen, obrigada!
Ana, que bom que gostou, obrigada pela visita!
Deve ter sido ótimo poder fazer o bolo que tanta desejava.
ResponderExcluirAgora o desejo é meu, já estou imaginando a delícia que deve ser.
Bjs!
Patricia,
ResponderExcluirAdorei tudo...o causo,a receita e a postura da Neusa. Outro dia mesmo me deram uma receita errada...propositalmente.. bom a contece. A Neusa esta de parabens...
Bjs para ti e para a Neusa.
Patricia, você é ótima!!!
ResponderExcluirAté imaginei a 'sogra' um tanto desconfortável, se deliciando com o-bolo-que-nunca-viu-como-você-conseguiu-essa-receita... divertidíssimo.
Agora, o bolo, menina, por tantos outros e por este, você tem talento!!! Decifrou e se esmerou! Fantástico! Parabéns!
Beijinhos,
que bolo incrível! e adorei a história. tenho uma parecida com uma vizinha, um bolo de café deliciosooooooooo. mas ela nao deu a receita pq era de família
ResponderExcluirDá um beijo na Neusa por mim... que sonho de bolo e ela... muito sábia... hehehe. Beijinhos, amei demais esta receita!!!
ResponderExcluirNão sei o que deve ser mais saboroso - o bolo ou a história. Adorei! As fotos estão um luxo, como sempre :-)
ResponderExcluirOlá! Adorei a história, tanto que decidi fazer o bolo. Apesar de ter tido uns probleminhas, o bolo ficou bom. Vou fazê-lo novamente e tenho certeza que ficará maravilhoso. Tenho algumas dúvidas e gostaria que você me ajudasse, se possível.
ResponderExcluirPrimeiro é em relação ao suspiro: O meu ficou meio duro, acho que as amêndoas pesaram (moí em casa, no processador, será esse foi o problema?).
Segundo: Não encontrei o Kirsch, nem na importadora de bebidas. Usei Vodka diluída, mas não ficou bom. Você saberia qual bebida seria uma boa substituta? E a proporção? É 120 ml mesmo?
Agradeço a atenção desde já e aproveito para desejar a você e a todos que frequentam o blog um Próspero 2010, cheio de realizações, harmonia e felicidade.
Um grande abraço a todos.
Juliana
PS - A genoise é m-a-r-a-v-i-l-h-o-s-a!!!! Vai ser meu bolo básico daqui para frente! Eu nunca tinha feito uma massa tão perfeita! Amei!!!!
Oi, Juliana! Tudo bem?
ResponderExcluirEu também tive problemas da primeira vez que o fiz pois a receita estava muito incompleta.
As amêndoas devem ser moídas finamente, mas suspiro é meio chatinho de fazer, nem sempre funciona... Tem que checar a temperatura do forno, também.
Não sei o que poderia substituir o kirsch, que tem um sabor bem marcante. E a proporção é essa, sim.
Muito obrigada pelo comentário, obrigada também por vir me contar do bolo!
Um abraço!
Acho que na falta do kirsch poderia se usar o rum branco, que tem um gosto que combina muito bem com doces (vide o Babá au Rhum! :p). O rum escuro eu não usaria pois além de mudar a cor da genoise, tem um sabor mais marcante.
ResponderExcluirAdorei a estória e a receita. Vou fazer também!!!!
Um abraço.
Maria Fernanda, obrigada pela dica! O rum descaracterizaria um tantinho a receita, mas dá certo, sim.
ResponderExcluirBoa sorte!